Todos nós temos dons inatos que precisam ser identificados
e desenvolvidos ao longo da vida. Essas características, também
chamadas de vocação, destino, caráter ou imagem inata, são o que
determinam nossa singularidade, quem somos realmente. “Mais cedo ou mais
tarde alguma ‘coisa’ parece nos chamar para um caminho específico”.
O tal chamado, ou dedo do destino, vai além das características
genéticas ou da influência do meio. É um mistério que nos leva a buscar a
trama básica de nossa história. Reconhecer o tal chamado é primordial
para a existência humana e conseguir alinhar a vida a ele é a melhor maneira de encontrar a felicidade. “O chamado pode ser adiado, mas com o tempo ele aparece”.
De acordo com esta teoria, é na infância que os primeiros sinais da vocação aparecem.
“Não existe alguém que não saiba fazer nada e já vemos isso na criança.
Se formos capazes de dar os estímulos certos, o ‘gênio’ irá florescer”.
“Nesse sentido, a família, a escola, os valores e a cultura interferem,
pois, se a semente é plantada em solo árido, ela não germina.”
Como saber se estamos no caminho certo?
Encontrar-se a si mesmo nesse emaranhado de influências é um processo
natural, e não uma escolha. “Há pessoas que têm maior facilidade para
permitir que sua essência se manifeste. Mas o processo de
desenvolvimento da individualidade torna-se mais difícil quando não
somos capazes de perceber os sinais que a vida nos dá e perdemos a
conexão com nosso universo interno. Assim, se tudo se tornou muito difícil e nada parece dar certo, pode ser um sinal de que nos desviamos do caminho“.
O cocktail de influências que recebemos da família, dos amigos, dos
professores, das crenças religiosas, de uma sociedade que valoriza
extremamente o ter em detrimento do ser, enfim, de tudo que nos rodeia, é
poderoso para obstruir o desenvolvimento pleno da semente que
carregamos dentro de nós.
Assim, corremos o risco de nos tornarmos pessoas alheias aos nossos
desejos mais verdadeiros e totalmente enquadradas em padrões sociais em
que a diferenciação é carta fora do baralho. Diante do novo, muita gente
entra em crise e tende a negar sua própria vocação, pelo medo do que
está por vir. “Esse movimento de defesa é comum e é a maior causa de
transtornos psicossomáticos e doenças”.
A dificuldade de encontrar a si mesmo pode se manifestar por meio de diferentes sintomas, como a compulsão e o consumismo.
“Essa (compulsão) é a principal razão que leva as pessoas a comprarem o
que não precisam, com o dinheiro que ainda não possuem, para
impressionar quem não conhecem e fingir ser o que não são. O autoengano é
um grande opositor do autoconhecimento e o maior aliado dele é o medo
da exclusão social”i.
Outro exemplo pode ser a dependência excessiva do que dita a moda,
como forma de tentar se enquadrar no padrão vigente. “Na verdade, tudo o
que fazemos para atender expectativas externas, coletivas ou
familiares, para sermos aceites sem levarmos em conta quais são nossos
reais desejos, vontades, valores e conceitos pode ser considerado um
sinal de que não estamos nos expressando verdadeiramente”.
O mais doloroso, porém, é quando o distanciamento de nós mesmos
provoca uma angústia ou uma resignação que nos engessa. “Dá para sentir
quando se está vivendo de forma resignada, quando é difícil encontrar
ânimo para levantar da cama e ir para aquele emprego que não dá prazer, é
entediante e nos deixa exauridos. Ou quando o relacionamento já não nos
preenche e estamos dormindo ao lado de um estranho”.
Sem comentários:
Enviar um comentário