-Por favor moço, sou morador de rua, só tenho essa água - Que estava em uma garrafa de 2 litros, porém tinha apenas um resto - Queria poder aproveitar um pouco desta coca, poderia dar um pouco para mim? - Falando rápido e meio embolado, por isso a minha ideia de possibilidade do usuário/ex-usuário.
Bom, obviamente que qualquer um daria uma desculpa de atraso ou qualquer coisa do tipo… Mas para que? Ele não veio tentando me fazer mal ou tentanto tirar de mim, muito pelo contrário, veio super educado, pediu por favor e tudo… Olhei-o aos olhos, e não ao corpo e suas vestes, e disse que sim, perguntei se ele tinha uma garrafa, e ele falou que conseguia arranjar, pois aquela água ele ainda guardaría para mais tarde. Eu ainda com um tempo de sobra, não tive pressa, esperei ele achar… Achou, uma outra de coca, 600ml, no lixo… Pegou-a e abriu. Abri a minha e despejei um pouco na dele. Ele me agradeceu, abaixou a cabeça e quando ergueu pude ver os olhos dele se enchendo de lágrimas, disse algo quase inaudível e foi andando, com um sorriso enorme no rosto… E sabe… É extremamente gratificante…
Mas ao mesmo tempo é tão mesquinho por parte das pessoas… Um carro da polícia chegou a encostar do nosso lado enquanto eu fazia a transição da minha garrafa para a que ele havia achado… Ficou olhando para ele e me olhou como quem perguntava se eu precisava de ajuda… Se não bastasse, as pessoas em volta com um olhar carrancudo, como se eu estivesse, sei lá, contaminado… Como se eu… Fosse ruim por fazer o bem…
Por quê? Por que o mundo está tão podre a este ponto? Por que as pessoas não conseguem mais terem um pouco de caridade, honestidade e carinho pelos outros? Tanto crentes que se dizem devotos, com todo seu discurso de “ajudar ao próximo” que não fariam nada para ajudar ninguém… Vejo tanto Ateu falando que “não precisa ser crente para fazer o bem”, mas também não faz nada… As pessoas que para fazer o bem não se precisa esperar algo em trocar…
Eu adoraria poder encontrá-lo amanhã, segunda ou seja quando for e perguntar se ele aproveitou aquela Coca-Cola, independente se ele vá se lembrar de mim ou não…
Maldita humanidade podre e acabada…”
| — | Vinicius Zolet |
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